sábado, 24 de setembro de 2016

Mudanças estéticas no ensino brasileiro

Venceu a escola sem partido e congêneres

A Medida Provisória do MEC é um atestado da influência que movimentos financiados por grandes grupos,  tais como a Ambev e a rede Burguer King, co-patrocinadores do Todos pela Educação e Fundação Lehman.
Ao invés de tomarem partido pela valorização da carreira docente,  melhorias técnicas na rede escolar,  criar programas de permanência do estudante na rede regular,  criar formas de atendimento ao estudante em riscos sociais, não o fizeram.
Abriram a docência para os  que possuam "notório saber" possam ocupar postos de trabalho abertos,  sem que tenham formação técnica especializada para docência, para que assim esvazie-se o debate sobre o que muito incomoda essas entidades conservadoras, tais como a questão de gênero,  os novos arranjos familiares e a estrutura de família,  as questões políticas que incidem sobre os cidadãos,  questionamentos sobre a realidade econômica e produtiva em uma economia de mercado,  sobre os processos de exclusão e exterioridades de um modelo de exclusão.
Retrocedemos duas décadas, quando não havia a obrigatoriedade de diplomados na docência.
Retrocedemos quatro décadas, para um momento quando não havia diálogo com a sociedade e o congresso é chamado apenas para ratificar as decisões do executivo.
Um "notório saber" que quer mascarar as fragilidades do sistema de ensino que precariza a docência,  quando mais da metade dos professores,  para sobreviver com um certo conforto,  excedem em muito 40 horas semanais tendo que trabalhar,  muitas vezes, em mais de três escolas e atender a mais de 1000 alunos.
Não avançamos, os alunos terão que enfrentar um sistema que não mudou sua essência, e que não estimula a prática docente, onde os professores só são protagonistas do maus resultados da educação.
Uma proposta muito mais estética que estrutural, que poderá promover parcerias público-privadas entre as secretarias estaduais com instituições privadas para complementar a carga horária e integração do Ensino Médio tradicional com o Ensino Técnico.  Não há transparência em tal processo.
Com a MP não fica claro o desenvolvimento da docência e nem metas a serem atingidas,  além de atropelar as Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, e de se antecipar à conclusão da Base Nacional Comum.
Esse choque de "liberalismo", que o estimado pensador Felipe Pondé defendeu tempos atrás, não condiz com a realidade das secretarias mais pobres da União,  onde falta professores do " currículo comum" quem dirá de atividades especializadas da formação técnica.
Outro fator preocupante é a ampliação da desigualdade,  tendo os jovens das familias mais ricas fazendo carreiras do ensino superior e os dos mais pobres buscando carreiras técnicas de menor remuneração.
Isso fere a própria ideia de Meritocracia,  aprofundando os níveis de condições de competição e de acesso,  ou seja, mantendo essa distinção do que cabe ao rico e ao que cabe ao pobre.
Ainda assim, com tudo isso não desisto desta atividade,  da docência.
Da certeza íntima de estar contribuindo positivamente para com os educados,  para o Real Progresso do País.
Não deixo o meu niilismo vencer,  sou um otimista persistente,  mesmo tendo que conviver e ter de enfrentar um sistema político que culpa os docentes e exime o ente Federal de sua responsabilidade.
Com grande preocupação

Professor Demétrio Melo