domingo, 26 de abril de 2015

Educação e Neoliberalismo: uma combinação perigosa

Opinião

Reler as décadas de 1960 e 1970 revela a importância que o papel da técnica, da ciência e da política tiveram para as décadas posteriores.
Chegada a década de 1980 o socialismo/comunismo parecia estar com os dias contados. A abertura soviética não estava sendo capaz de tirar a União Soviética de sua convulsão política-econômico-social. A crise política interna entre a presidência da Federação Russa e da União Soviética revelava a crise insustentável, e com a derrubada de um dos maiores símbolos do Ocidente-Oriente em 1989 na Alemanha Oriental antecipava a fragmentação daquele país, pondo fim como potência hegemônica e como contra-peso ao capitalismo global.
Tendo em vista essa dinâmica ocorreu nos Estados Unidos uma das mais importantes conferências internacionais para traçar as perspectivas para o "novo mundo" que se anunciava, conhecida como Consenso de Washington entre seus críticos, tendo em vista que as ideias lá referendadas estavam na defesa do livre mercado global amplo e irrestrito, indicando para as nações do "terceiro mundo" a abertura de seus mercados, os processos de privatização de empresas públicas, flexibilização das leis trabalhistas, criação de facilidades para a instalação de multinacionais e a lógica do "estado mínimo", todo esse conjunto de ideias remetia ao Estado Liberal dos séculos XV e XVI. Por isso, na América Latina, e alguns países europeus, foi denominado de "neoliberalismo".
Um dos países que mais aprofundaram as medidas neoliberais foram o Chile e a Suécia. Ambos os países privatizaram seus sistemas de educação, que na década de 1990 e 2000 auxiliaram a ambos a um forte boom de investimentos no setor, melhorando enormemente seus indicadores educacionais e de produtividade, mas que em recentes vem enfrentando grandes dificuldades.
No caso chileno cabe destacar que sua abertura econômica (iniciada ainda na ditadura militar) pautou-se em maior alinhamento com o comércio com os Estados Unidos, o seu maior investidor individual e grande comprador de minério de cobre seu principal produto de exportação, e foi neste país que o governo chileno tirou seu modelo de gestão do ensino superior, adotando um sistema totalmente privado.
Na Suécia com a expansão da União Europeia o país nórdico buscava consolidar sua posição econômica no setor informacional, visto que há limitações produtivas em seu reduzido território, e a escolha foi adotar uma política agressiva de abertura de seu mercado de educação na década de 1990.
O resultado recente para ambos foi o de paralisia desses setores. No Chile muitos estudantes não conseguem arcar com os custos da educação superior privado, o que leva ao abandono dos estudos e preocupa o governo, pois a disponibilidade de mão de obra qualificada vem se reduzindo, aumento os custos por trabalhador/hora de trabalho, reduz atração de novos empreendimentos ao país e por consequência reduz sua competitividade. Por mais que o governo subvencione parte do valor das mensalidades para aqueles que estão em maior risco socioeconômico, mas ainda assim é muito cara para a base da piramide social chilena.
Na Suécia a situação também é grave, pois um das empresas privadas, que adquiriu uma parte da rede de educação básica, simplesmente fechou escolas e deixou mais de 11 mil estudantes sem aula. O que levou ao país repensar seu modelo de educação privada.
Na última edição Fórum Econômico Mundial (2015) em Davos na Suíça ficou claro que o caminho para os investimentos em educação, principalmente para os países em desenvolvimento, deve ser realizado pelo Estado, ou seja, educação é uma ação estatal e deve se manter pública e com acesso gratuito, tendo em vista as enormes desigualdades internas a esses países.
Nesse momento político de incertezas decisões precipitadas podem trazer consequências sociais nefastas no médio prazo,