Opinião
A nossa contemporaneidade,
marcada pela instantaneidade midiática, cria uma fluidez no sistema de
produção, circulação e consumo nunca antes imaginado pela humanidade.
Essa instantaneidade globalizante
faz convergir os lugares superando línguas, costumes, leis e regras morais,
tendo em vista a necessidade de o capital poder usufruir de novas formas de
consumir, principalmente nas nações ditas emergentes, que expandem o consumo
interno como forma de desenvolvimento.
Aqui nasce uma das mais
importantes contradições o signo “desenvolvimento” não se equivale “ao
desenvolvimento social”, ou seja, a possibilidade de cada nação, em cada
cultura, poder decidir que melhor modelo lhe cabe para atingir seus
concidadãos. O signo “desenvolvimento” está sob a égide do “progresso material”,
da expansão das taxas de produção, circulação e consumo de bens e serviços. Ou
ainda o signo “desenvolvimento” é uma contradição per si visto que nos países desenvolvidos há aumento de pobres,
excluídos, marginalizados, a maior favela europeia encontra-se na periferia de
Madri na Espanha.
O modelo de desenvolvimento que
as nações vêm seguindo, desde a grande virada do sistema liberal inglês, no
século XVIII, e com a ampliação mercadológica do sistema liberal estadunidense,
século XIX para o século XX, permitiu para algumas nações um estado de fruição
de qualidade de vida muito seguro e próspero, que neste momento enfrenta uma de
suas maiores crises: o estado de bem estar social mantém gastos sociais além da
capacidade de arrecadação, mais uma contradição ao modelo de desenvolvimento.
Muito se tem dito e defendido que
o atual modelo de desenvolvimento brasileiro está fadado ao fracasso, com política
de juros altos, elevada carga tributária e o nosso sistema de seguridade social
têm feito o Brasil perder competitividade.
Os países ditos desenvolvidos, principalmente
Estados Unidos, Japão e os maiores da Europa Ocidental (Alemanha, França, Inglaterra
e Itália) na segunda metade do século XX deram início a uma corrida global em
torno de novos mercados de consumo, principalmente em virtude da Guerra Fria,
tendo a América Latina e grande parte da Ásia como destinos dos excedentes de
capital proveniente dos petrodólares estadunidenses e da ampla poupança interna
japonesa.
O que as empresas dessas nações
vieram consolidar nos países ditos subdesenvolvidos ou do Sul, foram suas
reservas de matérias primas, legislações fracas, ditaduras favoráveis ao
mercado internacional, amplo mercado de reserva de mão de obra, facilidades de
repasse de lucros, enfim, vieram consolidar o seu modelo de dependência econômica,
social e produtiva em relação às nações já industrializadas e desenvolvidas.
Foram criadas inúmeras outras
contradições nos países politicamente mais frágeis com dificuldades nas
principais garantias civis, principalmente no que tange aos direitos humanos e
a proteção da dignidade da pessoa humana, de outra forma, as liberdades civis,
sociais, individuais e coletivas. Essas ideias em conjunto tem sustentado a
atual retórica “progressista” de perda de competitividade frente os países
asiáticos, que por lá auferem melhores lucros em razão dos menores “custos
sociais” em se produzir novos bens e serviços.
Grande parte do empresariado
brasileiro defende mudanças no sistema previdenciário e seu conjunto de
direitos sociais em razão dos custos na produção, ora, seria mais inteligente,
e menos hostil, defenderem um ambiente global de direitos sociais, pressionarem
as entidades supranacionais em defesa de direitos sociais e coletivos nos
países asiáticos, africanos e latinos americanos que ofertam maiores lucros em
detrimento das restrições: jornada de trabalho de 14 a 16 horas por dia,
salários que não garantem o mínimo para a reprodução material do trabalhador, ausência
de seguro saúde, ausência de férias remuneradas, ausência de salário
maternidade, combate à exploração do trabalho infantil. E as exterioridades
desse processo hostil de produção: exploração sexual de menores, tráfico
internacional de pessoas, depredação ambiental, tráfico internacional de armas
e drogas.
Como sabemos o sistema de
produção atual não se constitui em um sistema de ampliação de valores morais,
tão pouco sociais, visto que em diferentes nações, vistas como modelo a serem
seguidas, estão vivenciando o insucesso: inflação alta, baixo crescimento
econômico, desvalorização social da produção, recorrência aos bancos privados
para empréstimos e auxílio austero do Fundo Monetário Internacional.
As contradições internas ao
sistema atual está ampliando as formas de produção hostil até nos países
pioneiros de proteção aos seus trabalhadores e cidadãos, com a imensa
quantidade de imigrantes pobres que todos os dias chegam nos países
desenvolvidos se cria uma situação de conflitos, na Europa alimenta a
xenofobia, nos Estados Unidos alimenta-se a produção de serviços pautada na mão
de obra mal remunerada, principalmente de latino americanos e asiáticos.
Em suma o atual modelo de desenvolvimento
material não pode ser confundido como sinônimo de desenvolvimento e progresso
da sociedade, progresso que deveria ser pautado nas garantias fundamentais do
valor social do trabalho, da dignidade, da individualidade, da liberdade de
pensamento, da liberdade de culto, da liberdade de escolha.
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