domingo, 10 de abril de 2011

Somos "BRIC"

Demétrio Costa de Melo*
João Pessoa, abril de 2011


O final do século XX encerrou a velha dicotomia entre o capitalismo e o socialismo, surgia uma nova era financeira, onde antigos mercados socialistas passariam a ser disputados pelas grandes corporações mundiais.
Mas para o Brasil isso passava ao largo da nossa economia, estávamos muito mal avaliados pelo FMI, e por grandes instituições financeiras, tais como o Citigroup e o BNP Paribas. Era o momento de reduzir o déficit público, através de uma política de redução do Estado e reordenação do poder territorial.
Estamos nesse momento assistindo as transformações políticas no Oriente Médio e Norte da África, tudo agora é muito rápido, a insegurança no fornecimento de petróleo atrapalha os planos dos Estados Unidos de recuperar-se economicamente, a França lidera os ataques contra a Líbia de Kadafi, um de seus mais importantes fornecedores de petróleo, e que vê no conflito a chance de vender os caças Rafale Marine ao Brasil (aquele da proposta brasileira de investir R$ 7 bilhões), que diante do pré-sal se faz uma excelente justificativa para converter o passivo ambiental em divisas (ou dívidas) tecnológicas para nosso país.
Mas as notícias para os brasileiros, que nos anos 1980 e 1990, que cresceram com forte inflação, arrocho salarial, parcos investimentos públicos e privados, é agora bombardeado com as manchetes: “somos uma das nações mais importantes”, “estamos entre os mais importantes emergentes”, “o BRIC é uma realidade”, claro que isso só nos traz orgulho, não ocorreu à toa a visita de Barak Obama, mas o que falar das práticas protecionistas ao mesmo tempo em que o discurso deles é “vamos crescer juntos”, “temos mais semelhanças do que mesmo diferenças”, posto dessa forma ou somos muito tolos em pensar que a grande Nação está realmente disposta em compartilhar todas as maravilhas do progresso, ou um de suas entidades políticas não compreende o sentido de “contraditório”, pois o resultado da OMC foi mais uma vez favorável ao Brasil, mas como fazer boicote aos produtos estadunidenses quando precisamos importar tecnologias e capitais e eles nos compram soja, suco, carne bovina...
Mas no horizonte há expectativas positivas, o próprio criador do termo BRIC veio recentemente confirmar nossa posição de destaque, ao afirmar que passamos do patamar de economia emergente, ou seja, depois de meio século ensinando nas escolas que o Brasil está emergindo para o tão esperado progresso vem agora o termo “mercados de crescimento”, claro, não poderia ser o desejado termo “país desenvolvido”, quando os 10% mais ricos do país ficam com mais de 43% de toda a riqueza produzida, não seria de outra maneira a nova classificação.
Para Jim O’Niell o nosso crescimento ocorre mais rápido do que ele havia previsto, nos tornamos a sétima economia do mundo com uma década de antecedência, desbancamos toda a América Latina, somos maior economicamente que 35 nações africanas juntas!
Entretanto, o FMI semana passada nos chamou a atenção para o crescimento econômico atrelado à oferta farta de crédito na América Latina, o que para nós não é tão perigoso tendo em vista nossa confortável posição de liderança no Mercosul, que completou 20 anos no dia 26 de março, e garantiu grande parte do saldo da balança comercial brasileira. Com o ingresso da Venezuela no Mercosul poderemos rivalizar com o Oriente Médio em fornecimento de petróleo para os Estados Unidos, reduzindo em muito nossa enorme dívida pública... Que venham mais negócios da China!                  
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União                                                                                                                                          

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