domingo, 8 de maio de 2011

Mudanças no Ensino Médio


Demétrio Costa de Melo*

Em recente decisão do Conselho Nacional de Educação (CNE) o Ensino Médio noturno passará por mudanças, que segundo avaliação de especialistas poderão ajustar o sistema básico de ensino à realidade dos estudantes.
O Ensino Médio brasileiro possui um currículo vasto, diversificado, culturalmente enriquecedor, mas desfocado das reais necessidades das classes trabalhadoras e produtivas do País. Para exemplificar, a indústria da construção civil tem tido dificuldades para conseguir pedreiros, mestres de obras, encanadores, eletricistas com qualificação mínima, em razão do ainda aquecido mercado de crédito imobiliário.
Em Porto Velho-RO, coração da Amazônia brasileira, tem pedreiros com vencimentos acima de dois mil mensais, bem acima dos vencimentos de muitas categorias profissionais, inclusive a de professores.
O aguardado Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) poderá não ser suficiente para suprir a carência de profissionais, principalmente nas cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, a infraestrutura deverá ser criada praticamente dos alicerces, um total de investimentos estimados em R$ 145 bi. Para se ter uma ideia a época do Panamericano do Rio de Janeiro (2007) muitas obras atrasaram, e a cidade sentiu a carência de profissionais na construção civil.
Que o Ensino Médio brasileiro deve mudar é fato, os números da evasão escolar de 2009, levantados pelo IBGE em paralelo com o Censo Escolar, evidenciou a problemática da etapa final do ensino básico, cerca de 27% dos estudantes, entre 15 e 17 anos, abandonaram a escola por motivo de emprego-renda, outros 40% abandonaram a escola nessa etapa por dificuldades similares.
Com a resolução do CNE as escolas poderão articular com a comunidade, corpo docente e o sistema de ensino ao qual a escola esteja integrada, a criação de um Projeto Politico Pedagógico (PPP) que considere as particularidades produtivas de seu contexto. O PPP poderá ser articulado em quatro eixos: ciências, tecnológica, cultura e trabalho, ou seja, as escolas que estejam inseridas em uma cidade industrial o currículo poderá incentivar mais as disciplinas ligadas às tecnologias (física e química, por exemplo), sem deixar de desenvolver os conteúdos de língua portuguesa e história.
A ideia do CNE é permitir que os currículos flexibilizem os conteúdos atinentes ao mundo do trabalho, principalmente em nosso País que possuem cerca de vinte milhões de trabalhadores com menos de seis anos de estudo, sem mencionar que o programa de inclusão do jovem ao trabalho, Primeiro Emprego, tem apresentado restrições por parte dos empresários, em função dos poucos incentivos à geração de emprego para jovens sem experiência.
O Ensino Médio Brasileiro tem servido como trampolim para o Ensino Superior, que consome muitos recursos do MEC, e apresenta parcos resultados no médio prazo, o que acentua as distorções entre as classes sociais nos País. Tendo em vista que os cursos mais concorridos nas Universidades públicas, como Medicina, Direito, Jornalismo, Odontologia, Nutrição, Petróleo e Gás, Ciência da Computação são tradicionalmente preenchidas pelas classes mais abastadas que conseguem mandar seus filhos às melhores e mais caras escolas, enquanto que a classe trabalhadora manda seus filhos às já em crise escolas públicas.
Projetos como esse levam muito tempo para poderem ser aferidos pelos indicadores de qualidade do ensino, mas vamos torcer para que as mudanças ocorram em favor dos que mais precisam: a população jovem trabalhadora.
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

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