quinta-feira, 28 de julho de 2011

As incertezas


Demétrio Costa de Melo*

No momento atual a única certeza que temos, além da morte, são as incertezas sobre os Estados Unidos nos levarem ou não a bancarrota.
O mundo mudou, mas as economias não mudaram. Continuam atrelando nível de endividamento com perspectivas futuras (incertezas) de que tudo vai caminhar certo, com a destreza de uma equação matemática, mas o fim se mostra dramático.
O Brasil figura como um dos principais credores dos títulos do Tesouro Americano, são quase US$ 190 bilhões em títulos nas mãos do Governo Brasileiro, em outras palavras, milhões de brasileiros pagaram bilhões em impostos, para ajudar nossos irmãos americanos, mas que na hora de recebermos os juros, cerca de 1% descontado a inflação, vem a notícia de que a maior economia capitalista não tem condições de honrar com seus compromissos, isso por que os juros no Brasil chegam a 140% ao ano.
Pelo jeito a economia brasileira entrou no final da festa, fomos obrigados a aceitar todas as medidas de austeridade do FMI, do Banco Mundial, regras de comércio da OMC, programas de privatização, terceirização da economia, câmbio flutuante, superávit primário, manutenção dos juros da dívida, ou seja, fizemos a lição de casa, enquanto isso o brasileiro, que desconhece o funcionamento de uma bolsa de valores ou que só vê dólar em filmes, corre sérios riscos de ter que ajudar no esforço fiscal dos norte-americanos, tendo em vista que se anuncia um período de recessão às exportações de produtos brasileiros.
Enquanto democratas e republicanos não chegam ao consenso a Chanceler Alemã, Angela Merkel, aproveitando esse universo de incertas dos EUA e do dólar, sabiamente está propondo um “substituto” ao FMI, um Fundo Monetário Europeu com a função de mitigar crises na Europa, como vem ocorrendo desde 2008, que atinge principalmente Grécia, Portugal e Espanha, o que reduziria ainda mais a influência dos norte-americanos no Velho Mundo.
Entretanto, no Velho Mundo há uma experiência malograda de aumento da capacidade de endividamento pelo Estado, a Itália vem tentando, sem muito êxito, ajustar as contas públicas, com endividamento acima de seu produto interno, e para os países que mantém baixas taxas de natalidade a cada ano há mais aposentados e menor consumo no país. A conta obviamente não se fecha!
Para os EUA aumentarem seu nível de endividamento no curto prazo sana os problemas de credibilidade, afinal nenhum país na história recente deu calote de 800 bilhões de dólares, e pode ajudar o Presidente Obama na corrida presidencial que se aproxima, mas o principal impacto social de um eminente calote histórico, por que até o momento que escrevo esse artigo o Congresso não chegou a um texto final para apreciação, será com os aposentados, a classe média e as áreas de saúde e educação, que poderão ficar sem US$ 300 bilhões em investimentos e recursos de custeio. É assim que se destrói uma Nação.
Nesse quesito os brasileiros poderiam servir de exemplo aos norte-americanos, há décadas que os sistemas públicos de saúde e educação vivem em frangalhos, com filas sofríveis no primeiro e péssimos resultados educacionais, ou sob outra ótica seremos elevados á categoria de “país desenvolvido” já que Brasil e Estados Unidos terão algo em comum: países caloteiros...
Mas não se preocupe, vá até o cinema mais próximo e assista “Capitão América”, nostalgia dos tempos da potência líder da Guerra Fria.
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Repúblicas de bananas


Demétrio Costa de Melo*

Dos anos 60 aos 90 do século passado os países que compõem a região da América Latina eram, por vezes, conhecidos por sua instabilidade política e econômica.
A geopolítica estadunidense  se fez presente no continente como um todo, mais ainda na porção central, principalmente em função da experiência socialista em Cuba, e tentativas frustradas na Nicarágua, Honduras e El Salvador. Inclui-se também o Panamá, onde os Estados Unidos (EUA) guarnece o canal que liga os dois maiores Oceanos da Terra.
As economias caribenhas receberam pesados investimentos produtivos no setor agrícola, com a chamada “Revolução Verde”, onde empresas controlavam grande parte da produção, principalmente de frutas, com destaque para as bananas, daí a denominação de “República de Bananas”. De maneira jocosa os analistas norte-americanos sempre se referiam a tais países com desdenha denominação.
Muitos imigrantes, a maioria ilegal, nos EUA é oriunda da América Central, que para fugir da fome, perseguição política, narcotráfico, e outros inúmeros problemas, tentam melhorar de vida na “Terra do Tio San”.
No entanto, a crise econômica, a ascensão dos Emergentes, principalmente China, Coreia do Sul, Brasil, tem retirado fatias cada vez maiores dos investimentos e mercados consumidores tradicionalmente controlados pelos EUA.
A crise de 2008 tem se alastrado para os mercados desenvolvidos criando inúmeras incertezas, principalmente sobre a capacidade de endividamento que os países podem assumir diante de seus credores. O cenário geopolítico tem sido outro em dias atuais, com o Congresso Estadunidense tendo que elevar o teto de endividamento do Estado, para além de 14,5 trilhões de dólares, ou cerca de onze vezes a economia brasileira. No rating internacional a capacidade do Governo Brasileiro de pagar suas dívidas é maior que para com o “Tio San”.
Da mesma forma que se referiam à América Latina como república de bananas, e muitas vezes incluíam o Brasil, os EUA não estão mais com tanto folego na politica internacional, mecanismos outrora criado por eles para “dinamizar nossas economias” nunca foram seguidas por seus criadores, que agora estão reescrevendo a cartilha do FMI.
Algumas pessoas já dizem até que o fim do mundo está próximo, tendo em vista países subdesenvolvidos estarem em situação privilegiada em relação aos desenvolvidos, diga-se o caso da Grécia, que já acertou seu socorro com o FMI-Banco Europeu, além de Portugal, Espanha e Irlanda que necessitarão de um pacto de “austeridade”. Sem deixar de mencionar a Itália que mantém nível de endividamento superior ao próprio Produto Interno.
Para esses pessimistas tenho pensado que poderemos ser, finalmente, se não uma grande potência, uma economia mais honesta, justa socialmente, que consiga sair do atraso político, educacional, tecnológico e claro financeiro. Gigantes como Coca-Cola e Nike, dentre outras, irão abrir papéis na BM&F, a Bolsa de São Paulo, que está entre as cinco maiores do mundo.
Caso não consigamos aproveitar esse ciclo de expansão econômica, com desoneração de tributos sobre produtos de consumo, sem uma verdadeira reforma política e sem investimento em infraestrura de transportes poderemos voltar a ser mais uma “República de Bananas”, ou seremos a potência de banana, carne, leite, ovos, soja...
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Para os Professores

Nos dias atuais muitos jovens ao vislumbrarem futuras atividades profissionais muitos procuram o magistério.
Segundo dados do último Censo Escolar a situação precária atinge um terço de todos os professores, número elevado se comparado com o grupo da OCDE.
De maneira criativa os brasileiros chamam a atenção às situações que nós professores temos que enfrentar: violência, descaso, ausência do estado e da família, o narcotráfico... Acredito que em poucos anos deveremos fazer curso de tiro, defesa pessoal e receber por periculosidade.
Prof. Demétrio

Já cidade de Jaraguá do Sul ocorreu o mais inteligente protesto contra a admissão de mais veadores na cidade.



sábado, 16 de julho de 2011

O número é ZERO!


Demétrio Costa de Melo*

Esse é o número de estudantes egressos do ensino superior de noventa faculdades inscritas no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, que não conseguiram sequer uma aprovação!
Na década de 1990 surgiu no país uma onda neoliberal, uma tentativa de alinhamento com o Consenso de Washington, que em resumo se tratava de uma forte abertura econômica ao capitalismo estrangeiro, afinal a Guerra Fria era passado e novos mercados estavam a disposição.
Da mesma forma que o Brasil é visto como um “gigante em desenvolvimento”, meio que adormecido, também se pensava assim nas ultimas décadas do século XX, nosso potencial era (e é) enorme, mas faltava alavancar o desenvolvimento intelectual do país. Mas, e o dinheiro para tudo isso? – não existia (e parece-me que ainda não o temos). Um Estado engessado em dívidas externas, manutenção de um elevado superávit para equilibrar o FMI, endividamento dos entes federativos... havia pouco espaço para manobras políticas na educação oficial brasileira.
Mas então vieram as reformas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), pensada pelo então Senador Darcy Ribeiro, que possuía muito prestígio político e afinidade com o ex-Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, as comissões que propunham mudanças na educação nacional garantiam maior flexibilidade para principalmente reduzir a quantidade de professores leigos no País, ou que possuíssem formação precária.
Quase que do dia para noite surgiram milhares de escolas de nível superior no Brasil, que se ajustando para “formar os professores leigos” iam driblando a fiscalização, algo não muito difícil nesse país de dimensões continentais, e novos cursos superiores foram sendo abertos, mas que não se destinavam a formar um corpo docente nacional decente, ou que viesse contribuir para reduzir os índices de analfabetismo e exclusão social, vieram aproveitar o mercado de títulos, um novo filão da economia educacional.
O que se vê nos dias de hoje é reflexo da supervalorização que se dá ao currículo acadêmico, fico lembrando que em meados da década de 1970 o Brasil, do “milagre econômico”, crescia a ritmo chinês, mesmo tendo 28 a 30% da população adulta alfabetizada. Atualmente se exige um curso superior até para quem entrega cafezinho, isso é desperdício de tempo e recursos materiais da nação. Na grande maioria dos países da OCDE (grupo dos desenvolvidos) predomina a formação técnica, ligada à produção. É justamente onde a China mais investe na formação tecnológica com vinculação à produção e a circulação de novos produtos e serviços.
Enquanto se gasta em média quinze mil reais/ano para formarmos um estudante do curso superior gastamos menos de um real por estudante no ensino básico, que deveria ser universal. Mas a “nova elite” continua a cultivar o sonho do diploma, e aqui na Paraíba duas faculdades não aprovaram nenhum de seus alunos inscritos no exame da OAB. Ou seja, em 48 meses de curso o que o “aluno” aprendeu? – será que seu conhecimento jurídico o permitirá entender que foi enganado, que a instituição de ensino a qual parcelou seu diploma em quase 5 anos está míope para o processo exigido para ser um defensor da lei? – mas já sabemos de quem será a culpa: do professor.
É o elo fraco da corrente, em um país onde um único deputado vale por cerca de 30 professores, e olha que precisaremos para as próximas duas décadas de quase 2 milhões de novos professores, não há LDB e fiscalização que dê jeito nisso!
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

domingo, 10 de julho de 2011

Moral e Política

Demétrio Costa de Melo*
Em tempos recentes temos assistido (alguns atônitos outros nem tanto) os escândalos que vem sistematicamente sendo anunciados no Palácio do Planalto em Brasília.
No Governo Lula o principal escândalo foi o “mensalão”, um esquema que utilizava sobras de caixa da campanha de 2002 para barganhar acordos políticos com a base aliada do PT. Foi esse o esquema que o então Deputado Roberto Jeferson (PTB-RJ) denunciou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar os ministros envolvidos com o esquema.
Parece-me que o Governo da Presidente Dilma não ficou imune aos problemas da corrupção no Palácio do Planalto, cinco ministros já foram depostos, o mais recente foi o do Ministério dos Transportes, há uma série de problemas relacionados com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Alfredo Nascimento do PR pediu demissão no último dia 06, para acompanhar o processo investigativo e talvez diminuir o desgaste e seu partido político.
Há uma grande semelhança entre o Governo Luiz Inácio o Governo Dilma, porém os problemas políticos com o primeiro surgiram dois anos após assumir o mandato, com Dilma não chegamos nem apagamos a vela de seu primeiro aniversário.
Sinto que falta algo que distinga nossos fieis representantes, algo simples, a “Moral”, mas não a moral simplesmente jurídica, mas aquela que traga consigo a valorização integral das pessoas, tendo em vista que qualquer governo (seja de direita, de esquerda, liberal ou não) é feito para preservar  a dignidade de seus concidadãos, preservar um sistema social comunitário, que garanta a todos acesso aos aparelhos do Estado.
Denuncias de superfaturamento, atrasos na execução de obras, morosidade da justiça são comuns no Estado Brasileiro, até quando a política feita por políticos no Brasil vão tratar seus cidadãos dessa maneira? – claro que ficamos com essa questão retórica, pois a cada eleição escolhemos sempre os mesmos representantes, essa discussão se encerra em si mesma.
Vivemos um momento político mundial de transformações, em décadas passadas denuncias como essas mudavam até os rumos dos investimentos, empresas e especuladores fugiam do País, mas agora há uma internalização da corrupção no Brasil surgida ainda no berço, de que todos são corruptos, não deveria ser assim.
Nos países que hoje chamamos de desenvolvidos não estão isentos de escândalos de corrupção ou desvios de governos, mas são mais contidos, a aplicação das leis costumam ser ágeis e de uma eleição para outra os corruptos não se candidatam, a mídia nesses países apresenta uma maior participação da difusão do conhecimento, já aqui ainda nos falta a “transparência” e o cerceamento da comunicação.
Se o dinheiro é proveniente de nossos impostos por que não podemos saber seu destino e em que está sendo aplicado. A carga tributária é alta, semelhante à Alemanha e França, mas não temos metade da infraestrutura de transportes que tais países mantém.
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Tudo vai dar certo...


Demétrio Costa de Melo*
João Pessoa, junho de 2011
Pronto, todos os preparativos à recuperação econômica da Grécia foram predefinidos pelo FMI, Banco Europeu e credores alemães e franceses.
Nos próximos quatro anos os gregos vão contar com a injeção de 110 bilhões de dólares em sua economia, para garantir que o país não aplique moratória ou leve os bancos europeus a bancarrota.
Enquanto que na maior economia do mundo, Estados Unidos, a ajuda econômica de 650 bilhões de dólares serviu apenas para manter o controle monetário da gigantesca dívida pública e manter um pequeno ritmo de recuperação econômica, sem que entrasse na espiral de recessão. Porém o principal objetivo era elevar o consumo doméstico, aumentar a produtividade e assim reduzir a alta taxa de desocupação de sua força de trabalho, já acima de 9% da população economicamente ativa (PEA).
Na Itália a dívida pública forçou a aprovação de um plano nacional de “austeridade” para controlar os gastos do Governo, cuja dívida pública atinge 120% do Produto Interno Bruto, e com as perspectivas demográficas negativas para os próximos anos há o temor de endividamento previdenciário muito além da arrecadação. Inclusive é um dos grandes temores atuais das economias europeias, o envelhecimento da população seguida de uma baixa fecundidade gerando enormes déficits, pondo em risco conquistas sociais, tais como os sistemas públicos de saúde, que funcionam melhor que muitos sistemas privados no Brasil.
Mas nós aqui no Sul subdesenvolvido assistimos algo novo, que as gerações anteriores não assistiram: países subdesenvolvidos abalam a economia mundial!
Recentemente a China inaugurou a maior ponte do mundo sobre águas marítimas, custou mais de R$ 3,6 bilhões ao Governo Central, além do trem de alta velocidade ligando Pequim a Xangai.
Já em terras tupiniquins os investimentos para os jogos da Copa também chamam a atenção do Mundo, só que pela lentidão com que os estádios e outras infraestruturas estão sendo construídas ou reformadas. Na edição 2218 da Revista Veja indicava que a Copa do Mundo de 2014 deveria ser transferida para 2038, já que o atraso das obras matematicamente leva a essa interpretação. O Brasil, por ser uma das economias com maior expansão, ou pelo menos maiores possibilidades, tem ainda que apresentar um plano de nação, a partilha política dificulta investimentos de grande volume de capital.
Voltando a ceara europeia os desarranjos econômicos põe em dúvida a capacidade das economias honrarem com seus compromissos, sua forte dependência por insumos importados e a alta do barril de petróleo dificulta a retomada do consumo. As exportações do continente não conseguem competir com as da China, que oferece melhores preços e maior volume de matéria exportada. O plano de austeridade da Grécia, que servirá de modelo para Portugal, Espanha e demais países do continente que recorrerem ao FMI, pode se mostrar mais uma falácia do pensamento da economia liberal, pautada em subsídios e protecionismo. É mais uma contradição que o sistema atual deverá responder.
Vamos continuar aqui no Hemisfério Sul, vamos assistir às grandes economias tentarem, até agora sem muito sucesso, escapar da recessão e da depreciação de seus estilos de vida, uma austeridade financeira não garantirá o alimento diário do grego, mas acalmará a ânsia dos especuladores...
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União