sábado, 16 de julho de 2011

O número é ZERO!


Demétrio Costa de Melo*

Esse é o número de estudantes egressos do ensino superior de noventa faculdades inscritas no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, que não conseguiram sequer uma aprovação!
Na década de 1990 surgiu no país uma onda neoliberal, uma tentativa de alinhamento com o Consenso de Washington, que em resumo se tratava de uma forte abertura econômica ao capitalismo estrangeiro, afinal a Guerra Fria era passado e novos mercados estavam a disposição.
Da mesma forma que o Brasil é visto como um “gigante em desenvolvimento”, meio que adormecido, também se pensava assim nas ultimas décadas do século XX, nosso potencial era (e é) enorme, mas faltava alavancar o desenvolvimento intelectual do país. Mas, e o dinheiro para tudo isso? – não existia (e parece-me que ainda não o temos). Um Estado engessado em dívidas externas, manutenção de um elevado superávit para equilibrar o FMI, endividamento dos entes federativos... havia pouco espaço para manobras políticas na educação oficial brasileira.
Mas então vieram as reformas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), pensada pelo então Senador Darcy Ribeiro, que possuía muito prestígio político e afinidade com o ex-Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, as comissões que propunham mudanças na educação nacional garantiam maior flexibilidade para principalmente reduzir a quantidade de professores leigos no País, ou que possuíssem formação precária.
Quase que do dia para noite surgiram milhares de escolas de nível superior no Brasil, que se ajustando para “formar os professores leigos” iam driblando a fiscalização, algo não muito difícil nesse país de dimensões continentais, e novos cursos superiores foram sendo abertos, mas que não se destinavam a formar um corpo docente nacional decente, ou que viesse contribuir para reduzir os índices de analfabetismo e exclusão social, vieram aproveitar o mercado de títulos, um novo filão da economia educacional.
O que se vê nos dias de hoje é reflexo da supervalorização que se dá ao currículo acadêmico, fico lembrando que em meados da década de 1970 o Brasil, do “milagre econômico”, crescia a ritmo chinês, mesmo tendo 28 a 30% da população adulta alfabetizada. Atualmente se exige um curso superior até para quem entrega cafezinho, isso é desperdício de tempo e recursos materiais da nação. Na grande maioria dos países da OCDE (grupo dos desenvolvidos) predomina a formação técnica, ligada à produção. É justamente onde a China mais investe na formação tecnológica com vinculação à produção e a circulação de novos produtos e serviços.
Enquanto se gasta em média quinze mil reais/ano para formarmos um estudante do curso superior gastamos menos de um real por estudante no ensino básico, que deveria ser universal. Mas a “nova elite” continua a cultivar o sonho do diploma, e aqui na Paraíba duas faculdades não aprovaram nenhum de seus alunos inscritos no exame da OAB. Ou seja, em 48 meses de curso o que o “aluno” aprendeu? – será que seu conhecimento jurídico o permitirá entender que foi enganado, que a instituição de ensino a qual parcelou seu diploma em quase 5 anos está míope para o processo exigido para ser um defensor da lei? – mas já sabemos de quem será a culpa: do professor.
É o elo fraco da corrente, em um país onde um único deputado vale por cerca de 30 professores, e olha que precisaremos para as próximas duas décadas de quase 2 milhões de novos professores, não há LDB e fiscalização que dê jeito nisso!
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

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