segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Consumo, logo existo


Demétrio Costa de Melo*
No século 17 o filosofo e matemático francês René Descartes elaborou seu raciocínio para comprovar a necessidade em se entender o mundo através da razão, do intelecto humano.
Em tempos mais atuais os seres humanos passam por uma forte insensatez, consomem muito além de suas possibilidades, parece-me que seremos medidos não pelo que realmente somos e sim pelo que podemos ostentar.
Com a crise econômica que estamos enfrentando, crise que está longe de ser a primeira e que será uma de muitas, vários dilemas surgem, tais como a mudança nos hábitos de consumo, que anteriormente pautavam-se nas necessidades básicas: vestir, habitar, comer. Mas atualmente temos substituído o “consumo existencial” pela “existência em consumir”, levando grande parte da humanidade numa interminável espiral de dívidas e crises.
Que é certo comprarmos para nos satisfazer isso ninguém é contra, no entanto o gasto sem responsabilidade e a forte redução dos Estados como agentes regulatórios respondem por grande parte dos problemas.
Vejamos o caso dos europeus que desde a década de 1950 vêm criando o maior e mais integrado mercado econômico do mundo, a União Europeia (UE), mas que por conter distintas nações com padrões dispares de desenvolvimento não apresentam um politica fiscal austera e controle de gastos, exceto França e Alemanha que inclusive estão o tempo todo socorrendo os demais países, diga-se o caso de Grécia, Itália, Espanha, Portugal. Até quando franceses e alemães comprarão títulos das dívidas desses países para custear a zona do euro e estabilidade do mercado comum? – especialistas não acreditam em longevidade para o que as principais economias da UE vêm fazendo, mas parece-me que não há outro remédio senão continuarem a pagar a conta das irresponsabilidades financeiras dos demais entes.
Já no caso do Brasil e China as economias tem mostrado mais folego, parte disso é a maior participação do Estado na economia, por aqui entre 31 a 38% do PIB são os impostos, nunca o país arrecadou tanto, por ano são cerca de R$ 650 bilhões, no extremo oriente os chineses apresentam um grande volume de poupança interna, são mais de R$ 6 trilhões, além do rígido controle do Estado nos investimentos, é tanta economia que os chineses acabam financiando os EUA com a compra de bônus do Tesouro Americano.
Brasil, França e Alemanha apresentam melhores resultados por serem economias muito mais taxadas, com mais garantias aos trabalhadores, uma melhor proteção previdenciária e quando necessário controlam até o consumo do mercado interno para barrarem a subida da inflação, o que consequentemente torna a vida mais cara. Com o Tio San é bem diferente, o estadunidense médio compra cerca de 12 vezes mais que os brasileiros e oito mais que os europeus, o que de fato caracteriza  o “consumo, logo existo”, inúmeros produtos acabam no lixo com apenas seis meses de uso, com a crise atual muitos foram as ruas em diversas cidades americanas pedir o aumento de impostos até para a classe média, contando que garantissem que o atual modelo de consumo permanecesse inalterado.
Enquanto nós brasileiros pedimos para que o Governo reduza a imensa carga tributária brasileira, os estadunidenses foram às ruas pedindo para pagar mais impostos, contraditório não? – e está sendo justamente a carga tributária brasileira que tem garantindo a manutenção do superávit primário e o pagamento em dia dos serviços da dívida externa, oferecendo mais garantias aos investidores nacionais e estrangeiros.
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

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