sábado, 4 de junho de 2011

O Brasil até tem voz, mas...


Demétrio Costa de Melo*

Na última semana a educação brasileira ocupou as televisões de milhões de brasileiros, praticamente todos passaram a conhecer a “desconhecida” professora Amanda Gurgel.
De um dia para o outro milhões de profissionais da educação foram em protesto, pelo sitio youtube.com, denunciar as humilhações às quais passam todos os dias, além dos baixos salários pagos na atividade docente e das ameaças que se tem nos dias atuais.
No ultimo dia 10 de maio um professor da rede municipal de Sorocaba (SP) foi agredido a golpes de capacete por uma de suas alunas, além de um tapa na face, por ter sido cobrada por uma tarefa. A aluna, que já tem 18 anos, não sofreu nenhuma sanção ou restrição à escola, sua mãe foi convocada para saber do ocorrido com a direção e corpo disciplinar da escola, e o que se assistiu foi a mãe da infratora ofendendo o professor e a todos da gestão escolar.
Nesse momento, segundo o sindicato dos Profissionais de Educação, quase 2 milhões de alunos estão sem assistir aula em função de diversas greves pelo país, mas como disse Amanda Gurgel, milhares ficam sem assistir por outras razões, tais como a ausência de contratações de professores ou substitutos para aqueles que vão se afastando da atividade docente.
Recordo que em dezembro passado nenhuma entidade civil ou política entrou na Justiça contra o reajuste salarial dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, o que acarretou um impacto de mais de R$ 2 bilhões aos brasileiros, mas com o Piso Nacional Para o Magistério a coisa é bem diferente, vários estados entraram na Justiça por inconstitucionalidade de tal, e milhares de Prefeitos se negam a pagar o Piso, com o argumento de não ser possível gastar além de suas receitas.
Nos fóruns sobre Educação se cogita para o próximo decênio um gasto médio com a educação brasileira acima de 6% do PIB, algo ainda muito aquém das reais necessidades da imensa rede brasileira, o déficit na formação de professores se avolumam a cada ano, e em muitas cidades brasileiras a contração de professores de matemática, biologia física e química é tarefa árdua.
Como se não bastasse a crise na rede educacional brasileira há ainda a falta de perspectivas para os jovens egressos das faculdades de licenciatura, nos estágios obrigatórios muitos desistem da atividade profissional.
No dia 25 passado na Grande Belo Horizonte durante uma palestra sobre drogas, proferida por um delegado de Vespasiano, os alunos, hostis ao tema, partiram com ofensas contra o Delegado, o que acabou em confusão, apreensão de um menor, além da depredação da escola e de duas viaturas da Polícia Militar. Não sei se um caso desses serve para ilustrar o quão difícil tem sido continuar na profissão, ou se serve de alerta que dentro de pouco tempo a presença será preciso o efetivo policial nas escolas, pois será a única condição à realização da atividade docente.
A guisa de conclusão o que se vê é isso, todos tem voz no processo, muitos teóricos buscam uma solução para os problemas, mas a política nacional impede ensaiarmos uma recuperação para o falido sistema público de educação, até o estado mais rico da federação (São Paulo) obteve queda no rendimento dos alunos de seus centros técnicos de educação. Temos muitas vozes, mas temos pouca ação...
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

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