sexta-feira, 24 de junho de 2011

Viva o São João!


Demétrio Costa de Melo*
Nós nordestinos estamos vivenciando um dos maiores festejos populares, contamos com fogueira, quadrilha, e no caso da Paraíba com o “Maior São João do Mundo”, realizado na Rainha da Borborema.
Com as festividades a economia da Região atrai um número cada vez maior de turistas, regional e nacional, e os estrangeiros costumam aparecer por aqui e se encantam com a alegria da nossa gente.
Mas com a crescente preocupação sobre a crise ambiental global algumas atitudes ou práticas deveriam ser repensadas, tais como um dos símbolos da festividade: a fogueira.
O que se tem visto são famílias com fogaréus cada vez maiores, as cidades se enchem de fumaça, e nesse período invernal é frequente pais estarem nos prontos socorros com suas crianças em dificuldades respiratórias, além dos idosos que também são acometidos de infestações virais oportunistas.
No livro do Colapso, de Jared Diamond, traz a luz como as sociedades se levam ao sucesso ou ao fracasso por práticas ambientais danosas, que comprometeram passadas gerações, e que comprometem a atual e futura em função do descaso com os recursos naturais.
Claro que uma fogueira em frente de casa é que irá acabar acidificando os oceanos, saturando a atmosfera com carbono, ou gerando as terríveis inversões térmicas, mas todo o conjunto de impactos pode sim agravar a situação.
Em recente relatório do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) constata aumento de 72% no desmatamento na Floresta Amazônica, aumento das emissões de carbono o que consequentemente agrava as mudanças climáticas na região, e o que é ainda mais grave é por em risco o agronegócio brasileiro, pois o sistema de precipitações (chuvas) é controlado pela Floresta Amazônica.
À medida que a Floresta vai se restringindo mais ao norte uma quantidade menor de chuvas chegará aos estados do Centro-Oeste produtores de soja, algodão e milho, além da principal região pecuarista do País.
Para ambientalistas o estado do Pará continua sendo campeão do desmatamento, em função dos projetos de mineração da Vale, da garimpagem e da pecuária extensiva. Mas as hidrelétricas de Belo Monte e Jirau tem sido destaque na imprensa Nacional e Internacional. Somente no município de Altamira 22km2 de floresta foram derrubadas para ceder lugar aos canteiros de obras.
O progresso e a ordem economia pautado na expansão do consumo não nos permite sair dessa espiral de devastação, ainda mais em um país em franca expansão do consumo e da produção, é necessário o aumento da oferta de energia, pois poderá comprometer outros investimentos, tais como a Zona Franca de Manaus e os estádios para Copa do Mundo.
Nossa devoção ao dinheiro e a edificação de novos templos de consumo trará benefícios momentâneos à economia, pois os impactos na natureza superam em muito os investimentos, uma vez retirada às florestas nativas a biodiversidade nunca mais é recomposta e o surgimento de desertos e aquecimento local são duas das primeiras evidências de que a racionalidade atual está equivocada.
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*Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especializando em Geografia e Gestão Ambiental, Professor de Geografia da rede oficial do município de João Pessoa e professor na rede particular. Colunista do Jornal A União

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